O meu último voo antes do confinamento foi no dia 18 de Março.
Foi tudo estranho. Ainda não tinha sido decretado o estado de emergência, mas nós já nos tinhamos apercebido da gravidade da situação. Já nos adiantavamos nos comportamentos de precaução. Os miúdos já não iam a escola por nossa iniciativa. E a escola já se estava a antecipar a uma nova realidade.
Ainda mal sabíamos...
Era uma 4.ªfeira, 6:30AM.
Tinha tudo para ser um dia normal.
Lá em casa a conversa era sempre a mesma: “É só ir ali a Oslo e voltar.”
“Até logo, meus amores. A avó leva-vos a escola. A mãe chega á hora do lanche! Ainda vos consigo ir buscar. E levar ao estudo, ao ingles, ao rugby, a casa da amiga...” 👈 Isto seria o dia normal.
Mas apareceu algo que é invisivel, um virus era o que diziam, para nos mostrar uma nova realidade. E agora a conversa era outra:
- “Vou só a Oslo e volto.”
-“Meus amores a mãe vai voar.
Estudem.
Podem usar o computador da mãe e o ipad do pai para se ligarem á escola virtual.
Façam intervalos ao fim de 45 minutos e cumpram o horário da escola...”
-“Não saiam de casa.
Não abram a porta a ninguém.
Lavem as mãos.
Vistam-se. Não vos quero de pijama o dia todo.
Não andem em casa com sapatos da rua. Mexam-se. Façam exercicio fisico. Não fiquem sentados o dia todo, nem passem o dia a comer guloseimas nem agarrados á televisão...”
-“E quando a mãe chegar não se aproximem. Não me dêem beijinhos nem abraços.
Pelo menos até a mãe tirar a farda, tomar banho, e desinfetar-se toda (será suficiente?)...”
E eles perguntam-me:
-“Até quando? Até quando é que temos que ficar em casa? Até quando é que não podemos estar com ninguém ? Até quando é que não podemos estar com os avós? Até quando é que não podemos dar beijinhos á mãe?...”
Tinha tudo para ser um dia normal... e nós tentámos . Tentámos manter a normalidade dentro do caos. Tentámos que as nossas vidas não se alterassem muito quando estava tudo de pernas para o ar. Tentámos que os miúdos se sentissem seguros, quando não sabiamos o que era seguro. Tentámos não ser alarmistas, quando não sabiamos no que acreditar. Tentámos ter esperança, quando não sabiamos o que o futuro nos reservava.
Estava tudo escangalhado. Estava o mundo de pernas para o ar.
Não era para ser assim. Mas nós somos tão capazes... tão resilientes.
Esperemos que não passe a ser esta a normalidade. Porque já temos saudades dos nossos dias normais . Aqueles de espalhar magia. ⭐️
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