Faz hoje um ano que fiz o meu último voo em tempos normais e já então se sentia que nada era normal. Aliás a única coisa normal nesse dia é que era o 5.º voo da semana, e até disso tenho saudades.
Tenho saudades de tudo. De acordar com um objetivo, de adormecer de cansaço fisico... de adormecer somente. Já que, desde há um ano até o sono é inquieto e irregular.
Tenho saudades dos meus colegas, das estadias, das conversas de galley.
Tenho saudades de fazer planos durante o voo para a estadia que se segue.
Tenho saudades dos pregos no Funchal , mesmo quando o voo chega a altas horas.
Tenho saudades dos pequenos-almoços dos hotéis e de sermos convidados a sair da sala por já serem horas de almoço. Tenho saudades do early bird.
Tenho saudades das noites em Accra e dos dias em S Tomé.
Tenho saudades dos destinos da Europa, das compras em Londres, da praia do Rio e de ir ao Teatro em S. Paulo.
Tenho saudades de correr em Central Park, de almoçar em Miami, do lago em Zurique e das pizzas de Roma.
Tenho até saudades da sensação do ar gelado que me toca na pele quando estou a porta do avião a dar as boas vindas nos voos que saem de madrugada no Inverno.
Tenho saudades de conhecer colegas novos em todos os voos e tenho saudades de me despedir deles com abraços e beijinhos.
Nós os que voamos temos um denominador comum: Gostamos tanto do que fazemos que quando chegam as férias metemo-nos dentro de um avião deliberadamente. E quem nunca ao passar na cabine, recolheu um copo ou deu alguma informação como se fizesse parte da tripulação daquele voo.
Uma vez tripulante , para sempre tripulante.
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